Foi um dos melhores shows de minha vida. No MAM, num dia pré chuva muito forte daquelas que lava o Rio.
Eu, em estado de plenitude, nem me incomodava com as gotas fartas que caiam do céu.
Decidi não assistir a um top DJ que tocaria depois. Mais do que já tinha em mim seria exagero.
O palco ficou pequeno para tantos músicos das mais diversas nacionalidades. Os instrumentos também eram xxxtra sortidos! Dos analógicos de quatro cantos do mundo aos digitais de super vanguarda.
Aliás, vanguarda mesmo não vinha de laboratório e sim daquela mistura de tudo com todos. Um beat que se perpetuava, reverberava ao longo de todo o show. Tem que ser genial para se fazer reconhecer no primeiro beat e não se deixar esquecer jamais por esse mesmo beat: absolutamente simples.
Do jazz vinha o improviso. Nunca tinha visto jam de cítara antes! Momentos surpreendentes!
Da natureza humana emergiam os temas: bandeiras sonoras contra o medo, pela liberdade de ser e de se expressar.
A cada música, uma reflexão rica conduzida pelo som: linhas de base viscerais e harmonias ultradelicadas. Mistura difícil de conduzir e, deixando a racionalidade de lado, fácil de se digerir.
O sorriso durava no rosto; refletia o tal estado de plenitude, a tal receptividade à chuva, o saber a hora de parar pois ao dormir provavelmente seria recebida por sonhos tão lindos quanto a realidade que tinha vivido.
O caminho do meio. Tudo isso me parece sábio. Quero ver o que vai acontecer na quinta, dia 5 de abril de 2012 no show dp Circo Voador.
Escutei o álbum "Culture of Fear" lançado no ano passado que não se distancia da receita essencial com densas linhas de base, harmonias etéreas, delicadas e vocais ora de anjo, ora de demônio.
Com os pés no chão fica a reflexão: por que um preço proibitivo? R$ 200 é impraticável. Comprei pois acho que me arrependeria de me privar disso depois. Tenho a sorte de ter essa grana e tamanha motivação porém acho que afastar muitos dessa experiência (ou da renovação dela) pelo muro que o dinheiro coloca entre as pessoas é lamentável, não tem nada a ver com a essência da banda.
Paradoxo pouco sexy diante de tamanha poesia!