quarta-feira, 29 de março de 2017

Looking back it was easy




A melhor estratégia. O grande exemplo. A conquista que a natação feminina esperava. Hoje, depois de perder o sono diante de uma dose cavalar de decepções, encontrei algum conforto inspirada na única nadadora medalhista olímpica desse país. Foi refletindo sobre a figura impecável de Poliana Okimoto que voltei a me conectar com algo útil que pode ser tirado da indignação profunda.

Primeiro, não vamos gritar, postar, discutir, ficar de "mimimi". Qual é o seu foco? Qual é o seu sonho? O que você vai fazer pra ter orgulho dessa pessoa que você é? O que você vai fazer para conquistar o seu pódio? Vai jogar limpo? Vai abrir mão de todo o resto? Vai manter o foco absoluto até o fim sem hesitar? De quem você vai precisar para te dar apoio? Vai se dar ao luxo de perder tempo com erros passados, com páginas viradas? Vai cair de cara certa de que vai levantar? Se tiver que repetir isso milhões de vezes novamente? Vai fazer? Vai encarar?

Olha pra tua cara no espelho e diz se o seu "fechamento" é esse sonho. Se ele realmente for um sonho inspirado no dom e pautado pelo amor, a resposta virá em segundos e será positiva.

Um dia assisti ao troféu Maria Lenk pela tv. Não me lembro do ano mas sempre me recordo da plasticidade e beleza do nado da paulistana Poliana Okimoto. Ela duplicava de tamanho na água. Explorava sabiamente a seu favor qualidades e defeitos. Depois desse dia, ela não saiu mais do meu radar. Quando a conheci pessoalmente, em pensamentos a reverenciei. Porte de rainha. Profissionalismo de paulistano. Quietude de mineiro. Excelência dos orientais.

No período que antecedeu aos Jogos Olímpicos Rio 2016, pouco se falou dela que seguia uma estratégia silenciosa rumo ao pódio. Ela chegou em sua principal prova confiante a ponto de dizer que nadou feliz, curtindo o momento. Só quem faz o dever de casa da melhor maneira, encara o teste com a leveza necessária para ser brilhante. Só quem tem a consciência limpa, ganha presentes da natureza como foi o mar de Copacabana que "estava para Poliana".

Muitos momentos me emocionaram naqueles dias de agosto mas somente um me fez chorar. Quando a Poliana levantou aquela medalha inédita, caíram todas as fichas não só do feito incrível em si mas também do novo patamar que ela inaugurou para todas nós que nadamos pelas piscinas, mares, represas, lagoas e rios desse país. Poliana representa a seriedade que nos falta em tantas esferas esportivas. Significa o trabalho duro e digno que segura esse país nas costas e raramente é pauta dos programas de maior sucesso. É exemplo de quem acredita em sí mesmo diante de um projeto de vida tão arriscado que é ser atleta nesse "aqui e agora". Nos ensina a superar - e por que não? - vencer os adversários e adversidades fazendo da melhor maneira possível e não dizendo que vai fazer.

Refletir sobre a Poliana nesse momento infeliz pelo qual passei me recarregou as energias por incontáveis motivos. Quer saber de alguns? Caráter, coerência, simplicidade, perfeição, coragem, beleza, leveza, foco e - claro! - vitórias que ela continua a acumular na temporada de 2017.

Que saibamos reconhecer a hora certa, o lugar certo e que estejamos prontos nesse momento para fazer toda a diferença como ela fez nos presenteando com medalha olímpica conquistada aqui no Brasil.

Que possamos nos preparar de forma impecável para os nossos principais desafios e mergulhar de cabeça seguindo firme com a leveza de quem não mediu esforços para fazer valer o seu amor. Que não tenhamos medo da derrota e sim a coragem de quem tem um grande exemplo para se inspirar.

Termino com este hino de uma das melhores bandas que já escutei na vida.

"Olhando pra trás foi fácil, porque eu sei que posso me sacrificar."

Pronto, acho que já posso dormir. O sono veio junto com a paz de espírito fruto da grandiosidade dessas lembranças e desse exemplo.

Obrigada, Poliana.

Obrigada natação em águas abertas, meu esporte de coração.