sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

Um dia vestido para minha mãe sereia

O dia amanheceu vestido de branco para homenagear a rainha do mar. Pétalas brancas ornamentavam a areia. Uma bruma de paz pairava sobre a praia de Copacabana. Quem mergulhou neste sagrado dia levou consigo uma singela benção da matriarca dos Orixás. Quem parou para oferecer flores, pensamentos, dons, conchas e o presente da presença nessa conexão singular percebeu a fartura infinita que vem daquela que zela pelo amor e a fertilidade. 

Ô feminino que tanto venero! Você me encanta de outras vidas... Te agradeço por ter ciência de tí como propósito de vida. Você me ressignificou. Optei por um caminho alternativo me esforçando para desconstruir o sentido da vitória que sempre foi coletiva. Que alegria é poder amar e saber deixar alguém me amar. 

Mas há um longo caminho de aprendizados pela frente. Um caminho de muitas entregas a fundo perdido que preciso encarar sem medo e certa de que o "colo de mães" me saciará com toda a fartura.

Ô Rainha, minha oferenda de hoje foi a promessa de contar boas novas regularmente. De compartilhar em letras a plenitude de ser recebida por tí nos mares e rios da vida. Fui escolhida por tí e pelos esportes que me conectam a ti. Gratidão por cada braçada e remada. 

Sigamos juntas. Honrando as mães e, por consequência, os pais. Nos curvando diante de tudo que dá e cuida da vida. Minha essência é fluida. Nada me "enquadrada". Da água vim, pra ela voltarei. 

Ìyá àwa sé wè, Yemonja dò ó rere Yemonja. Ìyá àwa sé wè, Yemonja dò ó rere Yemonja. 

Aproveito para agradecer por uma família muito especial que carinhosamente chamo de "amigos do mar". Especialmente aos que promovem o espírito do feminino na prática da natação em águas abertas. Andrea Orlandi e sua turma, eis minha gratidão por vocês existirem! Foi linda a nadada de hoje.




segunda-feira, 1 de janeiro de 2024

Luxo com alma


 

Na plenitude da simplicidade. No vigor de quem acordou após dormir bem. Observando olhares de quem virou a noite sonhando acordado. 


Curtindo o fato de estarmos todos num lugar de sonho. Feliz agora por imaginar um bom futuro próximo. 


Cercada de gente que me parece honesta. Trabalhadores de vários dias ao longo do ano. De gente que vem com a família curtir os raros dias de férias. 


E eu gosto da zona de conforto dos sorrisos de quem não explora. De quem tem porque faz. De quem depende de outros talentos além da esperteza para ser o que quer. 


No café da manhã, uma TV que enuncia a persistência dos que seguirão nos amedrontando e tentando nos convencer de que é normal a justiça ser injusta. E na inversão dos valores, somos literalmente obrigados a viver as diferentes dimensões desses valores. 


E isso é muito bom. 


Pois nos conscientizaremos de que precisamos mais do que nunca dos sorrisos ingênuos de quem não explora para levar a inutilidade de egos inflados embora. 


De que precisamos da natureza humana mais autêntica e de uma família que nos acolhe para ficarmos em paz. 


De que precisamos de amor livre de condições limitantes... E isso passa bem longe de opção sexual. É optar por amar sempre que possível. E também por deixar que os outros amem a sua maneira.


Um ciclo se renova junto com o compromisso de conexão com a essência. Um exercício diário que garante pés no chão e asas para voar. Que multiplica o brilho de nossa centelha divina a um fator que nenhum software estatístico é capaz de prever. 


Um brilho perpetuado no entusiasmo do nosso olhar. Devolvido ao coletivo do bem viver. Levitando-nos para uma vibe ímpar. 


Conectando as peças, nos devolvendo a saúde e tirando todo o sentido da exploração.


Sigamos, sejamos, dancemos, cantemos, nos abracemos, andemos descalços, mergulhemos no mar, tomemos banhos de lua e de estrelas sob o céu desse Brasil farto de vida.


… E amemos muito o presente das presenças.


Um luxo com alma que não se deixa digitalizar ou gamificar. Que nenhum dinheiro do mundo compra, nenhum banco acumula e nenhuma droga “dissimula”.


Bom ano!


quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

Easy like Sunday morning

 


Terminei de assistir Nyad decidida a fazer minha segunda maratona aquática da vida. 

Era dia 11 de novembro e a prova marcada para 10 de dezembro. Uma decisão surreal porém fluida e quase natural. Me sentia pronta sem racionalmente saber se realmente estava. Quando o corpo informa, o sensato é a mente obedecer. Dito e feito. 

O tal "meu" corpo decidiu que a cada semana entregaria uma crescente de quilometragens medidas de forma analógica. Algo como “do posto 6 ao 4 duas vezes ida e volta”. Era isso. Me comprometia e entregava. 

Tudo foi de fato muito leve. Já no segundo treino longo, a coach Andrea Orlandi aceitou a ideia e, sem drama porém com muito alto astral e maestria, conduziu do sonhar ao realizar de forma impecável. 

Chega o dia. Era uma no meio de (literalmente) milhares numa manhã cinza em Copacabana, prontos para se desafiar, estar com a família dos esportes aquáticos de praia e terminar o ano com chave de ouro. Cada um com seu nobre propósito. 

Larguei entre 18 mulheres. Quando me dei conta, estava no mar de bóia em bóia desenhando meus 10k. Um desenho que ficou registrado na mente anteriormente desafiada pelo corpo. 

Mente que, depois da prova, se descobriu na “mesma página” do corpo. Sim, os 10k me proporcionaram vivenciar essa poderosa união que segue firme até agora me incentivando a sonhar grande e querer realizar serenamente.

Os aprendizados?

- Foco absoluto nas referências maiores (prédios, montanhas) que me levariam no menor caminho para as bóias.

- A cada mudança de direção, deveria estar pronta para encarar uma estratégia diferente! Afinal, numa perna era onda na cara. Na outra, corrente jogando pra fora com ondulação que variava de 1 a 1.5m. Na seguinte, encarar onda quase com a potência do sorriso (se você não conhece a onda "sorriso" que aparece em Copacabana, pesquise) me puxando pro fundo e, depois, me jogando pro lado oposto da bóia destino. Na perna final, chegava tonta rumo ao pórtico para começar tudo novamente. Num recomeçar que jamais repetia as mesmas condições.

- A cada passagem na areia, o carinho de pessoas torcendo para que eu tivesse sucesso em realizar minha meta e me dando suporte por mais de três horas. 

- Dessa vez não pensei em desistir. Olha eu mudando de fase, minha gente! Que desistir de nossas metas mais sinceras de corpo e de alma jamais sejam uma opção!

- Estar 100% presente redefine nossa experiência de tempo e de espaço. É mágico. Em suma: não foi demorado e nem longe. 

- Só foi possível porque o Pedro & família Effect entregaram este festival impecável, porque a Andrea confiou na minha capacidade e me treinou para algo - em teoria pesado - de forma leve, porque na temporada do remo ganhei preparo físico, porque reduzir drasticamente o álcool por quem já bebia pouco “firmou” meu chão para encarar este e outros desafios: algo que só a sobriedade continuada poderia me proporcionar, porque num dia no ano de 2006 a Carol me deu uma inscrição para eu nadar minha primeira Travessia dos Fortes.

Os porquês assim como a gratidão por essa multidão que fez tudo isso virar realidade são infinitos. 

Que todos tenham vivido momentos ímpares neste domingo, 10 de dezembro de 2023. 

Que os aprendizados mais nobres sejam colocados em prática no ano que vem! 

Aliás, em 2024 tem mais. Bora ousar nas metas?


terça-feira, 10 de outubro de 2023

Bola pra Frente!

 


"Ana, o que te anima e o que te desanima no mundo esportivo?" Essa foi uma de muitas perguntas interessantes que me fizeram durante a visita ao Bola pra Frente. Sonho realizado pelo campeão mundial Jorginho que é eficientemente gerenciado por sua filha Vanessa e competente time. Aliás, visita que ficará guardada na memória pela troca, aprendizado mas, principalmente, por experimentar a realidade do poder que o esporte tem para transformar positivamente vidas. 

Afinal, são cerca de 400 jovens diretamente impactados pelo "Bola" por mês. Se você pensa que em torno desses jovens, giram pelo menos 3 pessoas e que o Instituto já existe desde 2000, faz a conta dos indiretamente impactados? 

Tudo isso para dizer que a realização de um sonho que tem o esporte como aliado é gigante. Que contas são figurativas e não tem calculadora para medir tantos benefícios intangíveis que a rotina esportiva traz para nossas vidas individuais e coletivas.

Mas sigamos...

O que me anima e o que e o que me desanima no mundo esportivo? Na hora disse que o desânimo vem da má gestão daqueles que usam o esporte somente para benefício próprio e o ânimo de histórias poderosas de atletas e de tantos positivamente impactados pelo esporte. Mas, depois, pensando bem, o que me anima e o que me desanima é a mesma coisa. É a gestão da poderosa emoção que o esporte planta na gente. Seja pro bem: quando nos colocamos a serviço dele para fortalecermos este círculo virtuoso, seja para o mal, quando transformamos a virtude no vício da ganância e do egocentrismo. 

Fico com a virtude. 

Virtude de quem (como Jorginho, Vanessa e seu time) sonha, realiza e deixa legados. Com a poderosa lembrança de ontem. Das paredes erguidas para acolher salas onde trocas preciosas são promovidas. Dos muros coloridos que contam a história do Complexo do Muquiço localizado no bairro carioca de Guadalupe onde o campeão nasceu e foi criado. Do gramado impecável. Das chuteiras compartilhadas que servem a tantos e multiplicam a doação da Nike por um fator que não saberia dizer qual. Da alegria e talento dos meninos e meninas jogando bola juntos. Dos sorrisos. Do cultivo daquilo que tem de melhor em “ser humano” que é dar continuidade à vitória coletiva de viver em paz e feliz.

Paz e felicidade.

Que nos presenteiam com revigorantes noites de sono para acordarmos acreditando ainda mais de que vale a pena sonhar para realizar. De que Deus nos deu talento e todas as condições para isso. Da certeza de que somos muitos, milhoes, bilhoes, infinitos querendo e fazendo pela paz. De que um dia cercaremos de luz e abraçaremos essas guerras covardes e perversas até que elas desistam de ser. Uma revolução sem armas, com alegria, diversão onde todos falamos a mesma língua universal do esporte.

Sim!

Afinal, isso já está acontecendo quando mulheres entram em campo e inspiram toda uma sociedade para ser mais justa não só com as mulheres mas também com o feminino.

Realmente surpreendente!

O que seria uma tarde para rica troca entre pessoas entusiasmadas por conhecer a Alemanha se tornou gigante em mim. Extrapolou expectativas quando mostrou com todas as letras, cores, cheiros, visões e arrepios que a minha jornada com o esporte só está começando. E que o propósito é muito (mas muito!!!!) maior do que cargos, salários, pódios corporativos e viagens internacionais. Aliás, é o oposto disso: simples, com ganhos intangíveis, viagens para dentro de si e de encontro com o que há de melhor no outro e - o mais importante - sem a vertigem de pódios. Afinal, queiramos ou não, estamos TODOS no mesmo plano e caixão não tem gavetas.

Termino com toda a gratidão pelo convite da Vanessa, pela recepção impecável do time Bola pra Frente, pela companhia mais especial do mundo que é a da minha mãe e pelo novo ânimo que ganhei de presente.

Amém. 

sexta-feira, 6 de outubro de 2023

A melhor hora da praia

Eu gostaria de te dizer.

E fico no gostar.

Porque gosto.

Das reticencias.

Do que precede à fala e ao som.



Entao nao disse.

Ainda.

Preciso urgentemente me desapegar.

Das reticencias.

E me apegar a dois pontos a menos.

Ao ponto final.



Ao som da fala.

À expressão da escuta.

Ao tom do olhar.

Ao cheiro do êxtase.

Ao gosto daquilo que vai além de mim.



Então mudei o tempo verbal.

Presente. Que generoso nome do único tempo verbal que interessa de verdade.

Está dito.

É um sentimento que não cabe nas palavras.

É a melhor hora da praia!

Se ambos te agradam, formou!




terça-feira, 3 de outubro de 2023

DJazz = DJ + Jams ao vivo




 DJ = Ana Kazz = toca deep house & house & lounge music desde 2000 nas pistas, bares, hotéis e eventos mais badalados do Rio.

Chico Costa = saxofonista desde a década de 80 tendo atuado ao lado dos maiores nomes da música brasileira e nos principais festivais de jazz do mundo.

Duo lançado em 2007 que voltará a se apresentar em 2023.

Sets de 3h onde o músico improvisa em sets de deep house e lounge music.

A seleção de músicas pode ser personalizada conforme a proposta do evento.

Proposta arrojada para incrementar experiencias diversas: de jantares até pistas de dança. 

Contato: anakazz@gmail.com

domingo, 13 de agosto de 2023

Copa Literária e lançamento do livro Women 's Football in Latin America Vol. Brazil: a altura do coletivo do esporte mais popular do globo

Um líder é um facilitador de conquistas coletivas. Queriam egocêntricos ou não. Sem o coletivo, nenhuma liderança se constrói. E todos no processo são igualmente importantes. 

Existem diversas formas de se liderar. Umas libertadoras outras opressoras. Algumas no meio do caminho. Mas a jornada não segue sem o consentimento de todos. 

A liderança é um estado de espírito, afinal, somos líderes em alguns momentos enquanto liderados em outros. E a liderança vem naturalmente assim como se desfaz da mesma forma dando sequência a uma tensão com ricos aprendizados. Claro que sempre podemos "forçar a barra" e que sempre pagaremos o preço amargo de investir no artificial, no não autêntico, deixando o que não é essencial protagonizar.

Mas quando é natural, não cansa, não infla o ego pois deixa o ecossistema onde a liderança se deu plenamente satisfeito. Palmas para todos. Segue o baile. 

Fui convidada para ser editora do volume brasileiro de uma coleção sobre futebol feminino na América Latina pelo Jorge Knijnik: um academico brilhante autor de artigo científico que me fez chorar. Na verdade, o Jorge Knijnik foi o primeiro editor e eu dei suporte para ele nesse processo. 

O livro em questão é composto por 16 artigos que tratam das mais diversas dimensões dessa modalidade no país: da história, passando por gestão, branding, filosofia, papel de gênero, etnografia e perspectivas futuras. São capítulos assinados por três gerações de pesquisadores. Eu pertenço a mais nova. 

Uma aprendiz como facilitadora para que esta linda obra coletiva virasse realidade. Meu papel. Quanta honra de ser convidada para esta função. Hoje temos histórias de nosso futebol contadas para públicos de diferentes países no globo. Afinal, a publicação é amplamente distribuída por editora de alcance global para bibliotecas e centros de pesquisa de todo o mundo.

Na terça passada, dia 8 de agosto de 2023, lançamos Women 's Football in Latin America, Vol. Brazil, em terras futebolísticas sagradas. Pacaembú: Museu do Futebol. Museu só no nome porque não se ocupa do passado. Na verdade, redesenha o passado de forma inclusiva oferecendo presentes singulares com o potencial de inspirar um futuro à altura do esporte mais popular da terra.

Lançamos o livro num contexto maior do que imaginávamos. A proposta original era uma mesa redonda entre autores desta publicação. Mas esta proposta "ordinária", ou seja, da ordem do dia, não se sustentou. Afinal, estamos lidando com terreno essencialmente coletivo. E, como disse antes, pagamos o preço amargo quando nos afastamos mas recebemos doces benefícios de quando nos aproximamos da essência. 

De um lançamento de livro evoluímos para a ideia de uma Copa Literária que abraçou diferentes formatos e acolheu diversos autores. Copa num estilo maratona. Foram três horas de uma rica troca que encantou até mesmo aqueles que só tiveram contato com o tema por terem sido convidados por familiares. A magia estava no ar e ficou registrada em:

Se muitos me agradeceram pelo trabalho de ser facilitadora na realização do livro em inglês sobre futebol feminino brasileiro, eu tenho uma gratidão enorme pelo coletivo que permitiu que este sonho do Jorge se realizasse. Um trabalho que não me cansou. Que me remunerou com uma moeda afetiva que dinheiro nenhum nesse mundo pagará. O agradecimento segue para o time do Museu do Futebol que, mais uma vez, me apoiou.

Uma experiência que justifica seguir adiante nesse propósito nobre de vida e de profissão. Numa lógica que desafia a de mercado. 

Sigo nadando contra a corrente. Só para exercitar o músculo que sente.

Querendo de presente este bis. Pra vida seguir renascendo feliz.


A cada dia.