quarta-feira, 26 de abril de 2023

#RespeitaAsMinas

 

Polêmicas fazem a roda da mídia girar freneticamente. Para muitos, não passam de um raso bate boca passional com pouquíssima reflexão envolvida. Para poucos, uma oportunidade de refletir e aprender com as diferentes dimensões que uma boa polêmica trás em si. Olhar o furacão do alto e com inteligência emocional requer abrir mão das dicotomias do certo x errado; do bem x mal. 

Entre os diferenciais do futebol de mulheres está um objetivo que vai além da performance física e financeira. Jogar bola significa o empoderamento delas e uma transformação estrutural na sociedade. Digo isso pois é no futebol que o patriarcado afirma e reafirma seu poder por décadas. Quando o feminino entrou nesse contexto, foi travada uma verdadeira guerra ideológica que certamente não será vencida em uma batalha. Na verdade, é uma luta de gerações. De séculos.

É algo gigante, global, que se soma a um movimento de troca de era onde o feminino se fortalece e se junta ao masculino na busca de equilíbrio. Mas voltemos à terra. Temos um técnico que, segundo vários grandes veículos de mídia, foi condenado na Suíça no final da década de 80 por ataque ao pudor com violência contra uma menina de 13 anos. Este mesmo técnico, que desde sempre atua em grandes times brasileiros, passou a liderar o elenco masculino Corinthians: clube com recente porém próspera tradição no futebol de mulheres. Nesse contexto, “as brabas” se posicionaram coletivamente contra o novo técnico dos homens usando como principal argumento o compromisso de representar valores nobres da marca do clube reconhecido como democrático que luta pelos direitos do povo. 

Há alguns dias, o elenco feminino do Corinthians postou a mesma mensagem em perfis nas redes sociais e algo que poderia passar despercebido por pessoas acostumadas com a "surreal normalidade futebolística” ganhou visibilidade. Parei para ler os comentários de seguidores das meninas. Algum apoio (principalmente de perfis com nomes de mulheres), muita agressão (vinda em sua maioria de perfis com nomes de homens) e algumas reflexões sóbrias que instigam entendimento mais aprofundado do caso além do porquê de discutir somente agora um impasse antigo.

Sigo acompanhando a polêmica. Fujo dos julgamentos óbvios. Apuro mais sobre o caso que se revela surrealmente assustador a cada link. Percebo o poder da narrativa patriarcal no discurso das organizações esportivas e da mídia quando desviam a atenção e reduzem o peso da culpa que recai sobre o técnico. Vejo o desprezo que a dita "massa democrática e do povo" trata a mulher na sociedade. Reconheço que não há unanimidade nessa massa onde muitos percebem e valorizam a necessidade do empoderamento da mulher. Encontro trocas positivas num mar de comentários desrespeitosos e violentos nos perfis das jogadoras. Admiro a capacidade das “brabas” de se organizarem coletivamente para se posicionarem. Tenho a certeza de que a polêmica extrapolou nichos e se faz presente no "horário nobre" dos milhões de brasileiros que passam a vida discutindo futebol.

Já não é a primeira e não será a última vez que "as minas" de clubes com recente tradição no futebol de mulheres se posicionam transformando fragmentos de realidade em algo que julgam ser mais justo e inclusivo. Assim, aos poucos e nos quatro cantos do mundo, vão abalando os pilares do patriarcado que infelizmente ainda domina boa parte do ecossistema esportivo. Incansavelmente. De grito em grito. De atitude em atitude. De geração em geração. Um compromisso coletivo, solidário, que não suporta violência de qualquer tipo. 

Algo gigante, global onde grosserias dos que negam a visceral transformação da humanidade não mais precisam ser respondidas à altura mesquinha de bate boca raso. Perdoemos a hipocrisia das massas ditas democráticas que pregam a ditadura do patriarcado com atos hipócritas, dissimulados, covardes e impensados. Perdoemos e sigamos em frente. 

Saudações a quem tem coragem de expressar e fazer valer seus valores mais nobres. 

#respeitaasminas