domingo, 4 de junho de 2023

Lições de vitórias coletivas com o melhor professor da vida (aka) a saga do 4x feminino master na última etapa do estadual



O esporte é um dos mais competentes professores quando a matéria é vida! Na semana passada me ensinou tanto que precisei parar para registrar as inúmeras oportunidades de aprendizado. Em suma, fui pega de surpresa para competir numa regata num domingo no Rio, sendo que, no sábado anterior, estaria em casamento em BH. Isso só seria possível se eu saísse cedo da festa, pegasse um ônibus e chegasse para competir. 

O casamento foi lindo. Uma celebração de amor entregue com muito carinho. Sim! Me permiti curtir esse momento cheio de encontros fartos de alegria com a família. Fartura também vinda de comidas e bebidas finas. Muda a chave. Estou dentro de um ônibus tentando dormir em movimento. Do alto das Minas Gerais ao nível do mar fui. Em curvas, subidas e descidas. Quando vi, estava na Novo Rio, no Rebouças, no Jardim Botânico e - finalmente - na Lagoa. Sempre passei mal no ônibus. E tem coisas que é melhor fazer na categoria popular do que VIP. Descer as serras no leito foi especialmente enjoativo. 

Muda a chave. De banho tomado e uniformizada pego a bike e chego no Flamengo em dia de regata! Clima de regata! Todos a fim de vencer. E eu determinada a vencer o enjoo e o cansaço e todo argumento de que competir não seria possível. Mas, naquele dia, o não não era opção. E quando a gente está com 1% de carga é necessário ser extremamente seletivo para seguir adiante. Então era olhar pra frente. Fazer o que foi programado sem questionar. Acreditar que o corpo - apesar de cansado - tem a memória de uma boa preparação e a vontade de vencer. 

Troca a chave. Fui recebida com carinho pelos demais. Um coletivo alto astral e paciente cuja força foi construída com leveza, espontaneidade e muita boa vontade de fazer o melhor diante das diversas realidades que se apresentavam. Nosso barco foi treinado por várias mãos. Quando faltava uma, entrava outra. Entrava até homem. Todos naturalmente comprometidos com essa dinâmica.

Algo que repito ter sido leve e natural. Tranquilo. Sóbrio. Desprovido de intrigas, mau humor, maldades e dramas mexicanos. Simplesmente fomos adiante. E, quando me dei conta, estava no barco. 

“Largada rápida!” - disse o árbitro. Fomos. Num coletivo quase impecável movido pela força de várias mãos. Seguimos numa dança harmoniosa, reflexo de todo o processo. Leves e eficientes. Sem buscar culpados pelos erros mas vibrando pelos acertos que, por sua vez, também não tinham donos. Acreditem. Não havia ego dominante alí. Fomos um formado por muitos. Pelas meninas desse four skiff master, mas também por outras "meninas" e "meninos" que somaram com essa entrega.

Última mudança de chave. Subimos no lugar mais alto do nosso modesto pódio de regata estadual. Partimos para o abraço e instantaneamente reverenciamos o coletivo dessa vitória. 

Foi lindo. E desejo isso pro remo brasileiro. Pra esse esporte que mudou a chave da minha vida. Quando digo isso, é espírito coletivo, vontade de somar, de assinar vários nomes e sobrenomes sob cada conquista e de considerar caminhos fora da caixa para se chegar lá. E, ao chegar, agradecer ao ecossistema que nos cercou incluindo adversários, família, a nós mesmos e - claro! - a Deus. Porque no final, o que fica é o calor do abraço e a convicção de que toda vitória é coletiva. Estivemos o tempo todo a serviço do esporte; jamais o contrário. Nos permitimos aprender lições preciosas com um dos melhores e mais competentes professores quando a matéria é vida!