quinta-feira, 29 de junho de 2023

Sobre a conquista coletiva de sonhar, realizar e transformar a sociedade pelo futebol de mulheres

Finalmente cheguei no SESC da Paulista para o bate papo sobre futebol de mulheres ainda meio zonza após o troca-troca em trens do metrô. Me sento e começo a escutar depoimentos entusiasmados sobre a crescente da modalidade. Em 2016, quando fui atraída para o mundo do futebol por histórias de corajosas atletas, o futebol de mulheres era 10% do que é. 

Hoje, muito disso mudou. Particularmente acredito que o grande impulso disso tudo foi o reconhecimento do poder comercial da modalidade pela UEFA e (claro!) pela FIFA. Nesse contexto, um palco "profissa" foi cuidadosamente montado para as meninas brilharem na Copa do Mundo de 2019. Um divisor de águas em terras francesas.

Estatísticas oficiais revelaram quebra de recorde de público em estádio e nos meios de comunicação. A performance e qualidade do jogo aumentou de nível. Patrocínios globais e locais se multiplicaram. O nobre propósito (e o jogo) delas ganhou visibilidade e impactou milhoes e milhoes que se multiplicam a cada dia num movimento onde o esporte é meio de mensagem de transformação por uma sociedade mais justa.

Então, mesmo sentada, sem o ir e vir do metrô e do mar de gente dessa paulicéia desvairada, sigo zonza. Naquele momento, me dou conta de que estou na mágica zona limítrofe onde o sonho vira realidade. E que não estou sozinha. Somos muitos despertos pelo poder do feminino para cuidar das feridas abertas por um patriarcado viril onde o simples fato de nascer mulher nos impede de ser o que queremos. 

Insisto no sonho pois as craques que estavam palestrando também insistiram no poder de sonhar. Sonhar como indivíduo. Acreditar que pode. Revelar seu sonho. Buscar aliados importantes como é o caso da família. Superar barreiras. Descobrir que sonhar não é um "ofício" solitário e que o sonho de cada um é capaz de se conectar com outros sonhos num círculo virtuoso que se fortalece e se realiza.

E assim o futebol de mulheres vai para a Copa do Mundo FIFA em 2023. Num palco que promete ser mais iluminado e com metas ainda mais ousadas de quebras de diversos recordes. Elas, que antes vestiam uniformes dos homens, agora protagonizam um espetáculo esportivo produzido sob medida. Sim, elas vão devidamente preparadas e amparadas por uma equipe técnica muito mais completa, em voo fretado, chegando em condições para se adaptarem ao fuso e apoiadas por marcas diversas. Tudo isso com milhões de fãs acompanhando de perto uma jornada onde a busca da estrela é importante mas está longe de ser a única conquista que se busca numa Copa.

"É um caminho sem volta!", concordam as palestrantes que também são pioneiras na promoção da transformação do futebol de mulheres. Então vamos nele. Cuidando para que a gente não se desvirtue abrindo guardas para perigos da apropriação dessa nobre causa pela comercialização sem propósito e pela massiva exposição midiática guiada por referenciais patriarcais. 

Afinal, a busca da igualdade no futebol vai além de grana e visibilidade chegando num diálogo igualitário da negociação de atributos do feminino e do masculino por uma renovação saudável do esporte mais popular do mundo!

Fica aqui meu agradecimento à Tamires, craque de Caeté que me apresentou a grandiosidade do futebol de mulheres pela linda história pessoal, e às jornalistas Mariana Pereira e Juliane Santos por tanta inspiração. O sentimento de gratidão se estende ao SESC Paulista que fez tudo isso acontecer.




Depois da palestra, um abraco de boa sorte pra craque de Caeté com toda a gratidao de quem teve sua vida transformada pelo exemplo de coragem, fé e resiliencia em sonhar dela.